terça-feira, 13 de janeiro de 2009


Histórias que marcam... A morte de Vincenzo Spagnolo.



Esta é daquelas “histórias”, que me marcaram profundamente, não só a mim, mas como Itália e o mundo em geral naquela década. Na altura ainda não andava nas curvas, mas recordo-me da trágica noticia como fosse hoje. Por se aproximar a data, aqui vos apresento os factos do sucedido. Por quase 14 anos, um triste 29 Janeiro de 1995, marcou imensa gente. A morte do jovem ultra Vincenzo Spagnolo de Génova ficara eternamente na memória de todos. Uma facada fatal feita por Simone Barbaglia, um membro da Brigate Rossonere, põe fim a vida deste jovem skinhead e membro dos ultras Génova.
Anteriormente a estes incidentes, Milão e Génova foram ligadas por uma forte amizade. Em 1982, na última jornada do campeonato, Génova e Nápoles empatam, e o Milão é condenado a ir para a série B. A partir desse momento a amizade "esfriou". No final dos anos 80 e inicio dos 90, os dois grupos ultras travaram duros confrontos, em San Siro (na temporada 91/92 foi um ultra milanês que esfaqueou um ultra de Génova, aquando da deslocação do Milão a Génova, são tremendamente apedrejados aquando do seu cortejo para o estádio), nos anos 90/91 foram várias as emboscadas dos genoveses nessa época, com 3 milaneses feridos). Houve ainda um jogo entre duas equipas que apesar de estar suspenso pela chuva, não exclui a hipótese de haver incidentes entre os 2 grupos. Na Temporada de 94/95 dá-se o abandono de vários membros da Brigate Rossonere, entre eles vários líderes históricos do grupo. Esse abandono faz surgir um segundo grupo, (denominado Gruppo Barbour) é conhecido por ser composto por jovens com ideias violentos.
Na quinta-feira antes do jogo, numa pizzaria em Milão tomaram a decisão de irem armados para Génova, para dar uma "lição" aos ultras da casa. No dia do jogo, partiram de Milão num comboio especial, e aparte dos outros cerca de mil ultras de Milão. O grupo aparte era formado por 20 pessoas, e não tinham nenhum distintivo, evitando assim a polícia. O grupo chega a Génova, e nas proximidades do estádio são verificadas algumas provocações e agressões, nada de especial, para não chamar a atenção da polícia. Chegam ao estádio, e ao lado da sede dos Ultras Génova, há novamente provocações. Entre algumas ofensas de parte a parte, um ultra Genovês foi esfaqueado no estômago. Várias pessoas que se encontravam naquela zona, correram em seu auxílio. Vincenzo Spagnolo, de 25 anos, morre… Por qualquer motivo, que na verdade ninguém soube explicar ao certo o que se sucedeu.

A partida começa às 14:30, mas rapidamente começa-se a espalhar a notícia da trágica morte de Vicenzo. A rádio acaba de confirmar o triste incidente e começa-se a avistar os primeiros sinais de revolta, todas as bandeiras e alguns objectos são lançados para o campo. Visto tamanha revolta, o capitão do Génova falou com os ultras e pediu-lhes calma, foi-lhes dito que o jogo seria suspenso em sinal de luto. Após uma reunião, os dois capitães leram uma declaração, na qual referiram não ter condições anímicas para efectuar o resto da partida. Em seguida, começou um cerco ao estádio, uma centena de ultras no domínio genovês, tentaram chegar ao local dos adeptos visitantes, tentando quebrar a protecção de vidro. A polícia chega, e o primeiro confronto ocorreu quando tentam expulsá-los do estádio. A batalha campal começa, são atacados vários polícias que protegiam o sector visitante. Os ultras de Génova barricam-se nas ruas próximas ao estádio, enquanto a polícia chama reforços. O chefe da operação tenta entrar nas imediações do estádio, mas foi interceptado por um coqueteil Molotov. Após 3 horas de cerco, incluindo o prefeito de Génova chegou para tentar manter um diálogo com os ultras. Entretanto são queimados carros, lojas são destruídas...


A polícia debruça-se agora sobre o facto de como remover os ultras de Milão. É impossível saírem de comboio, porque os ultras de Génova dirigiram-se para lá para efectuar uma espera. As 22:30, são finalmente transportados de autocarro para Milão. Foram escoltados por um imenso contingente de polícias. Antes da entrada para os autocarros, tenta-se identificar o alegado assassino, mas sem grande resultado. Após quatro horas de viagem pela auto-estrada, os polícias identificaram um jovem, pela fotografia que tinha sido facultada pelos polícias de Génova.
Na manhã seguinte, em Milão, o alegado homicida, Simone Barbaglia (19 anos), confessou durante o interrogatório de ser o assassino. A jornada seguinte do campeonato foi suspensa. No fim-de-semana seguinte, reuniram-se em Génova cerca de 400 ultras, representando 38 cidades. Apenas um grupo dos ultras Milão, Torino, Juventus e Lazio não marcaram presença. Foi debatido o assunto “violência no futebol”. Também durante a reunião foram abordadas questões como a fragmentação das curvas, e o controle de micro-grupos, a política, as regras do comportamento, o ser ultra… Desde logo foi decidido que a partir dali não seria legítimo qualquer grupo usar armas. Depois do reencontro foi emitido um comunicado condenando o episódio, e concordaram em paralisar os próximos jogos.
Depois da primeira prisão começaram as investigações, e consequente julgamento, através de um procedimento rápido. Barbaglia é condenado a 11 anos e 4 meses de prisão. Os três detidos: Carlo Giacominelli, Massimo Elica Dozio e Luigi, o primeiro foi o líder do grupo que partiu de Milão, e que foi com a intenção de atacar o genovês. Duas curiosidades sobre Giacominelli: 2 meses antes do assassinato havia sido entrevistado no Supertifo sobre a existência de 2 grupos dentro do BRN e a outra é que, na curva era conhecida como a "Cirurgião" pela sua habilidade com facas. No julgamento afirmou que atacou sem intenção de matar, e só o fez para proteger-se, pede desculpas à família de Spagnolo, e escreve cartas de arrependimento.

Este episódio mudou em muitos aspectos o movimento ultra Italiano. Até então nunca se tinham reunido em torno de uma mesa, os líderes dos grupos, para tentar encontrar um diálogo favorável a ambos. Desde então, e até aos dias de hoje, tem sido celebrado o aniversário da morte deste Ultra, para que não seja esquecido o nome de Vincenzo Spagnolo. No décimo aniversário de sua morte foi publicado um livro de Luca Vicenti em homenagem a Spagnolo, e tem o nome de: "Diário de um Ultra Domenica" e refere os trágicos acontecimentos desse jogo. Penso que este episódio deu uma enorme lição a todos, e há varias conclusões a retirar. Penso que esta mais que provado que o usso de armas é ilegítimo, e nem em último recurso devera ser utilizada, com pena de nos virmos arrepender no futuro.






94-95 genoa-milan
Video enviado por VecchiaGuardia

6 comentários:

Anónimo disse...

Mas que história! Simplesmente genial, conhecia varios factos, mas numca tao aprofundado. Muito bom, ve-se que fizes-te um bom trabalho.

Anónimo disse...

Boa crónica, atenção para muitos que skinhead não quer dizer fascista eheh bem pelo contrário...

Abraço

Anónimo disse...

Grande blog e grandes crónicas são estes motivos que me fazem vir aqui todos os dias continua com o trabalho que está´óptimo não desistas.
Abraço

Anónimo disse...

Ainda Hotem jogou o milao com o genova, foi ca uma festa de relembrar os velhos tempos.

Anónimo disse...

muito bom! mais destas..

Anónimo disse...

foi o inter, não foi o milan.
e aquela 2ª parte do prolongamento com os de genoa sempre a bombar